segunda-feira

"A Gaivota" no Teatro da Cornucópia

"A Gaivota", de Anton Tchekov, é a primeira encenação de Luís Miguel Cintra depois de ganhar o Prémio Pessoa 2005. A obra do dramaturgo russo, um dos clássicos do teatro mundial, está já em cena no Teatro da Cornucópia.
Uma experiência obrigatória para actores, encenadores e espectadores.

A GAIVOTA de Anton Tchekov

Tradução Fiama Hasse Pais Brandão

É a segunda vez que o Teatro da Cornucópia leva à cena uma peça de Tchekov. Há 18 anos, em 1988, a Companhia representou Três Irmãs numa encenação de Rui Mendes.
Desta vez dedica ao grande dramaturgo russo um pequeno ciclo constituído pela encenação de A GAIVOTA e por outro espectáculo sobre Tchekov com o título provisório de ATELIER TCHEKOV dirigido pela encenadora francesa Christine Laurent e com um guião por ela construído a partir de O Cerejal, cartas, documentos sobre a primeira encenação da peça por Stanislavsky, etc, a estrear em Junho.

A GAIVOTA é a primeira das quatro grandes peças de Tchekov (com O Tio Vânia, Três Irmãs e O Cerejal), a que primeiro Stanislavsky encenou e que ficaria como emblema do Teatro de Arte de Moscovo. Aquela que se centra no tema das relações entre a arte e a vida, a peça referência para todo o teatro contemporâneo, objecto de incontáveis encenações em todo o mundo e de constantes abordagens experimentais, e tal como o Hamlet de Shakespeare, a que, aliás, se refere, quase impossível de representar em toda a sua riqueza e complexidade.

Numa quinta russa do fim do século XIX o jovem escritor filho de uma conhecida actriz apresenta à família a sua peça de teatro representada pela rapariga que ama. O espectáculo é incompreendido pela sua mãe em férias e pelo seu amante, escritor de sucesso. A rapariga apaixona-se pelo escritor, decide fugir para Moscovo e ser actriz. O rapaz fica no campo com o grupo de personagens que povoam a sua vida: um tio reformado, o administrador da quinta e a mulher, a filha infeliz de ambos, um professor de aldeia, um médico de província, os criados. Dois anos depois a mãe e o amante voltam. O rapaz vive a escrever. A sua antiga amada volta também, às escondidas: é uma actriz sem sucesso, vive sozinha, teve um filho do escritor, que morreu. O reencontro é difícil. O rapaz suicida-se. E a vida continua.
Tchekov, génio do teatro do princípio do século XX e da arte do conto, mestre na análise das relações humanas e na elaboração musical dos diálogos, inventor da personagem colectiva, retratista do quotidiano, cria com estas cenas da vida de um pequeno grupo de personagens de há um século atrás, um irónico microcosmos onde os homens, sem darem por isso, se debatem com as grandes questões do pensamento humano: a busca da felicidade, o sentido da existência, a dificuldade de amar, o conflito do novo com o velho, as relações da arte com a vida, o trabalho e o dinheiro, as diferenças de classe. Cria um retrato do mau viver. “Olhem para vocês, vejam como vivem mal e como têm uma vida aborrecida. O importante é que as pessoas percebam isto, e quando perceberem, tenho a certeza de que hão-de inventar para si próprios uma outra vida, uma vida melhor.” Dizia Tchekov há um século. Já conseguimos?

O Teatro da Cornucópia, com este espectáculo, tenta apenas levar à cena este texto sem ferir a sua luminosa limpidez. Tentou abster-se de toda a manipulação, para além da que qualquer tradução e representação inevitavelmente significam, para se confrontar e
confrontar o público de hoje com a pureza de um texto genial, de tal modo frágil e delicado que é quase crime tocar-lhe. É importante para um grupo de actores por uma vez na vida ter a experiência de um texto assim.
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